Arquitetura Gótica
O século X encontra a Europa em crise. O poder real, enfraquecido, foi substituído pelo feudalismo. Invasões ameaçam a França. Desprotegidos, o povo se organiza em torno dos castelos feudais, únicas - e precárias - fortalezas. A tensão popular contribui para que se espalhe a crença propagada pela Igreja de que se aproxima o juízo final: o mundo vai acabar no ano 1000. A arte românica, expressão estética do feudalismo, reflete o medo do povo. Esculturas anunciam o apocalipse, pinturas murais apavorantes retratam o pânico que invade não só a França, mas toda a Europa Ocidental. Chega o ano 1000 e o mundo não acaba. Alguma coisa precisa acontecer.
Em 1905, surgem as primeira Cruzadas. O feudalismo ainda permanece, mas tudo indica que não poderá resistir por muito tempo. Novos pensadores fazem-se ouvir, propagando suas idéias. Fundam-se as primeiras Universidades. Subitamente, a literatura cresce em importância. Muitos europeus, até então confinados à vida nas aldeias, passam a ter uma visão mais ampla do mundo. Profunda mudança social está a caminho.
Pressentindo a queda do feudalismo, a arte antecipa-se aos acontecimentos e cria novo estilo, que irá conviver durante certo tempo com o românico, mas atendendo às novas necessidades. Verdadeiro trabalho de futuristas da época, o estilo gótico surge pela primeira vez em 1127, na arquitetura da basílica de Saint-Denis, construída na região de Ile-de-France, hoje Paris.
Fins do século XII. Graças ao apoio da burguesia e da classe trabalhadora, os reis conseguem retomar sua autoridade. Enfraquecido, o poder feudal vai aos poucos desaparecendo. A população passa a ter maior influência na vida pública nacional, da qual tinha sido até então mera espectadora. Eufóricos diante da própria importância, os habitantes de cada região sentem a necessidade de demonstrar sua emancipação. A catedral será o símbolo de sua vitória. Aí se realizarão não apenas os atos religiosos, mas as atividades comunitárias de todo o grupo: será a casa do povo. Não mais cheia de esculturas e desenhos tenebrosos, mas alta, imponente, iluminada. Que suas torres pontiagudas tentem atingir as nuvens. Livre do medo do fim do mundo, o povo é animado por novo sopro de fé. As paredes de seus templos devem deixar entrar a luz do sol em múltiplas cores que lembrem a presença divina
Da necessidade de construir catedrais que correspondessem à euforia e ao misticismo do povo, surgiu a arquitetura gótica. As primeiras foram construídas na França, ao redor de onde se encontra hoje a cidade de Paris; foi essa uma das primeiras regiões a eliminar o feudalismo.
Nobreza, clero e massa popular competiam em generosidade mística. O objetivo era um só: colaborar para a construção das dispendiosas catedrais. Com a autoridade monárquica cada vez mais assegurada, as antigas zonas feudais foram-se transformando e surgiram as primeiras cidades: Noyon, Laon, Sens, Amiens, Reims, Beauvais, onde se encontram as catedrais góticas mais belas do mundo.
O estilo gótico é identificado como o período das grandes catedrais. De fato, com suas construções começaram a ser definidos os princípios fundamentais desse estilo. O gótico teve início na França, novo centro de poder depois da queda do Sacro Império, em meados do século XII, e terminou aproximadamente no século XIV, embora em alguns países do resto da Europa, como a Alemanha, se entendesse até bem depois de iniciado o século XV.
O gótico era uma arte imbuída da volta do refinamento e da civilização na Europa e o fim do bárbaro obscurantismo medieval.
Foi nas universidades, sob o severo postulado da escolástica - Deus Como Unidade Suprema e Matemática -, que se estabeleceram as bases dessa arte eminentemente teológica. A verticalidade das formas, a pureza das linhas e o recato da ornamentação na arquitetura foram transportados também para a pintura e a escultura. O gótico implicava uma renovação das formas e técnicas de toda a arte com o objetivo de expressar a harmonia divina.
A arquitetura gótica se apoiava nos princípios de um forte simbolismo teológico, fruto do mais puro pensamento escolástico: as paredes eram a base espiritual da Igreja, os pilares representavam os santos, e os arcos e os nervos eram o caminho para Deus. Além disso, nos vitrais pintados e decorados se ensinava ao povo, por meio da mágica luminosidade de suas cores, as histórias e relatos contidos nas Sagradas Escrituras.
A construção gótica, de modo geral, se diferenciou pela elevação e desmaterialização das paredes, assim como pela especial distribuição da luz no espaço. Tudo isso foi possível graças a duas das inovações arquitetônicas mais importantes desse período: o arco em ponta, responsável pela elevação vertical do edifício, e a abóbada cruzada, que veio permitir a cobertura de espaços quadrados, curvos ou irregulares.
Os arcos de meia circunferência usados nas abóbadas das igrejas românicas faziam com que todo o peso da construção fosse descarregado sobre as paredes. Isso obrigava a um apoio lateral resistente: pilares maciços, paredes mais espessas, poucas aberturas para fora. O espaço para as janelas era bem reduzido e o interior da igreja escurecia. O espírito do povo pedia luz e grandiosidade. Então como conseguí-las?
O arco em meia circunferência foi substituído por arcos ogivais ou arcos cruzados. Isso dividiu o peso da abóbada central, fazendo com que ele se descarregasse sobre vários pontos, simultaneamente, podendo ser usado material mais leve, tanto para a abóbada como para as bases de sustentação. Em lugar dos sólidos pilares, esbeltas colunetas passaram a receber o peso da abóbada.
O restante do peso foi distribuído por pilares externos. Estes, por sua vez, remetem o peso aos contrafortes - torres pontiagudas e muito trabalhadas, que substituem as maciças pilastras românicas, com a mesma função. As torres dão mais altura e majestade à catedral. As paredes, perdendo sua importância como base de sustentação, passam a ser feitas com um dos materiais mais frágeis de que se dispunha: o vidro. Surge a desejada luminosidade. Grandes e feéricos vitrais coloridos ilustram em desenhos cenas da vida cristã. A magia dos vitrais góticos, que filtram a luz do sol, enche a igreja de uma claridade mística que lembra a presença divina.
O sistema de suportes constituídos de pilares cantonados e fasciculados, pequenas colunas cilíndricas e nervos, junto com os arcobotantes, tornou a parede mais leve, até seu quase total desaparecimento. As janelas ogivais e as rosetas acentuaram ainda mais a transparência da construção. A intenção era criar no visitante a impressão de um espaço que se alçava infinitamente até o céu.
Fotos Arquitetura Gótica
Catedral da sé
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